Os casos denunciados à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência vão de insultos à violência física, passando por invasões de terreiros e até recusa de fazer negócios. Foi o que ocorreu com Fábio Oliveira, frequentador do Ilê Axé Oxum.
- Compramos um terreno em uma comunidade em Campo Grande para erguer um barracão. Na semana seguinte, fomos informados de que o tráfico local não queria ‘macumbeiros’ ali. Tivemos de desistir do espaço - conta.
O grupo de Oliveira hoje se reúne com frequência no Parque Ecológico dos Orixás, em Magé. O local foi criado há dez anos, na tentativa de evitar a exposição dos praticantes de candomblé e umbanda. Todos os fins de semana, a área, de 60 mil metros quadrados, recebe dezenas de associados à União Umbandista dos Cultos Afro-Brasileiros. Vestidos de branco, os frequentadores se reúnem em cantorias com atabaques e deixam oferendas aos pés de imensas estátuas de orixás e em uma cachoeira.
Diferentemente de Oliveira, grande parte dos frequentadores do parque não quer ser identificada e não se deixa fotografar. Testemunhos de quem aceita conversar dão pistas do que leva ao acanhamento.
- Trabalho em um banco e tive uma chefe que descobriu que eu batia tambor. A partir dali, ela começou a me perseguir, e tive de pedir transferência - conta uma umbandista.
Professor do Departamento de Ciência da Religião, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o cientista social Silas Guerriero vê um aumento da intolerância no Brasil nos anos recentes:
- As intolerâncias mexem com a sociedade de maneira geral, quando um grupo se acha superior ao outro. No Brasil, sempre houve uma certa tolerância religiosa. O que tem acontecido nos últimos anos é que o pentecostalismo se coloca de maneira muito fundamentalista. E esse fundamentalismo evangélico tem levado às situações de violência que estamos vendo.
Segundo números do Disque 100, evangélicos são apontados em nove dos 22 registros de intolerância contra adeptos do candomblé e da umbanda. Mas, para o diretor da Associação dos Pastores e Ministros Evangélicos do Brasil, Carlos de Oliveira, os neopentecostais são acusados de maneira injusta.
- Os evangélicos são pacíficos. Nunca presenciei um pastor dizendo “vamos incendiar um terreiro, vamos quebrar suas imagens”. O que se fala é “vamos orar para que Deus toque o coração deles”. - defende o pastor da Assembleia de Deus. - Sempre que invadem uma igreja católica ou um terreiro, os evangélicos são os primeiros suspeitos. Mas, muitas vezes, os agressores não são da religião.
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